O turismo, a cultura e a culinária no Amazonas

A histórica mania de se autossabotar subestimando os potenciais do Amazonas em outros setores

Andei pela cidade no final do ano e aquele sentimento das festividades natalinas e de fim de ano de alguma forma sempre mexem um pouco comigo. O largo estava lindo, todo decorado e iluminado, da mesma forma a orla da ponta negra e seu papai noel gigante enchendo os olhos das crianças com luz e cor, foi tudo muito bonito.

Eu, particularmente, tenho sempre uma lembrança afetiva muito especial desse período pois é época de família reunida, mesa farta, piadas de “tiozão do zap” e a companhia da minha avó materna. Sempre fui muito apegado a ela e nessa época do ano sempre me sinto um pouco mais próximo, apesar de ela já ter partido há quase 23 anos.

Minha avó, Dona Margarida, era uma pessoa da terra, com quem aprendi muitas coisas, a vi fazer vinho de açaí que tomávamos com farinha do Uariní, pato no tucupí, e toda a sorte de carnes de caça. Inclusive me atrevo a dizer que minha mãe tem o mesmo dom da minha avó para a culinária. São excepcionais, e não sou só eu quem diz isso para que não pensem que é uma opinião parcial. Mas é assunto para um outro momento.

Apesar de humilde, Dona Margarida era muito inteligente, teve uma boa base educacional e sempre tratou os netos como filhos, de alguma forma ela transferiu para mim, pelo menos, através das suas histórias da juventude, como as coisas eram naqueles tempos.

Certa vez, retornando de longos anos em Brasília, um de seus irmãos voltou a Manaus, ambos com idade já avançada e conversaram sobre o modo que se transportavam pelo interior e até parte aqui de Manaus naqueles tempos (canoa, bondinho, a pé etc).

É impressionante como a cultura regional é patente em nossos lares ou, ao menos, na minha família. Meu pai, que também é amazonense, sempre me contou como as coisas eram na sua infância e juventude e como as coisas aconteciam naquele tempo.

Mas, nesse natal, andando pela cidade, eu me senti em qualquer lugar: Gramado, Campos do Jordão; lugares que tem qualquer semelhança com países longínquos, menos com a nossa casa.

E, conversando com uma amiga, percebi que senti falta da regionalização do natal, da ancestralidade, daquilo que nos conecta e nos une, daquilo que é nosso, do pertencimento ao local.

E me pergunto: – Porque não chamaram nossos irmãos de Parintins, por exemplo, para fazer uma árvore de natal amazônica? Posto que fazem alegorias e esculturas belíssimas para o festival e teria tudo para ser uma decoração estupenda de natal.

Quando falamos de natal, também falamos de turismo. Gramado tem o “Natal Luz”, Campos do Jordão também tem uma decoração impecável para o natal. Duas cidades serranas que remontam o glamour europeu para os tempos natalinos. Já Manaus, por sua vez, está encravada no meio da floresta amazônica e as pessoas vem do mundo inteiro para ver nossas belezas naturais (flora e fauna), cultura e gastronomia. Por que não fazer um natal temático, regional e moderno em contraste com arquitetura da belle époque?

As pessoas ainda vivem aquela quimera de que tudo que vem do centro sul é melhor e moderno. Nos podemos fazer coisas únicas, modernas e sem perder os traços regionais, entrando na rota de um evento anual e internacional que atraia milhares de pessoas para vir conhecer o nosso combo: belezas naturais, cultura, gastronomia e arte. É tão difícil perceber que temos tudo o que precisamos para despontarmos nas áreas que mais precisam de atenção?

Precisamos olhar com carinho para nossos valores culturais e deixar fluir o mundo (nesse caso a região) a qual pertencemos. Somos um povo de uma cultura rica, linda e singular, temos tanto para oferecer e, ainda assim, temos nosso potencial completamente subestimado, inclusive por nós mesmos.

Sim, nós mesmos. Recentemente manaus entrou na lista dos melhores destinos turísticos em 2023 do The New York Times. Um dos pontos fortes é a nossa culinária falando dos ingredientes amazônicos e do tacacá.

Certa vez conversei com um amigo que é advogado em uma grande banca de direito empresarial na capital paulista, ele conhece Manaus e adora a culinaria, os lugares enfim. Um certo restaurante local abriu um restaurante em São Paulo, e ele foi cheio de felicidade e expectativa.

Chegando lá ele pediu o prato preferido dele na unidade que fica e Manaus e o maître informou que não eram os mesmo pratos, tudo foi alterado e “gourmetizado” para o paladar daquela região. Peixe assado ao molho de barbecue? Meu amigo então disse: – Avise o dono que a gente não quer mais do mesmo, queremos o que Manaus tem a oferecer, avise-o que a culinária de Manaus é maravilhosa e o formato original dá certo.

É mais do que patente e óbvio que o mundo vem para ver quem somos e nos admirar por isso, e não para ficar nos autossabotando sob a ilusão de que deveríamos mudar nossa essência para sermos admirados e aceitos pelo resto do planeta.

Saulo Maciel

Industriário, especialista em modelos de negócios no setor e apaixonado pela Amazônia. Acompanhe nas redes sociais.

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